Na sequência do colóquio Artes de Cura – medicinas tradicionais no século XXI, organizado pelo IELT – FCSH/NOVA, surge a necessidade de refletir e reforçar a aproximação entre as ciências da vida e as humanidades, um vetor cada vez mais frágil no âmbito dos cuidados de saúde.
Dirigindo-se a todos os profissionais das áreas da saúde, assim como à comunidade científica, em especial, aos investigadores nas áreas das humanidades e ciências sociais, o colóquio Artes de Cura II – Prevenir, cuidar e curar: O olhar das Humanidades articula-se em torno de três conceitos fundamentais que enformam os diversos actos profissionais em saúde – prevenir, cuidar e curar.
O colóquio Artes da Cura II procura interrogar o que podemos compreender hoje, à luz dos mais actuais e diversos conhecimentos, por noções como corpo, saúde e doença, prevenção e cura ou cuidado e função dos cuidadores. Para tal, ambiciona suscitar um diálogo aberto e partilhado entre investigadores oriundos de diversos campos científicos, das ciências da vida à antropologia, passando pela história, pela sociologia e psicologia, sem esquecer a filosofia ou os estudos literários.
Conceitos neutralizados quer pela proliferação na linguagem corrente e mediática, quer por se terem convertido num monopólio de um saber técnico e altamente especializado, a presente iniciativa convida a pensar os domínios da prevenção, do cuidado, da cura e temáticas afins numa perspectiva científica e humanística.
Em primeiro lugar, dar-se-á atenção ao estatuto epistemológico e histórico da prevenção. Como afirmava William A. Haseltine – figura cimeira do projeto «genoma humano» – «a morte é um conjunto de doenças susceptíveis de prevenção». O que justifica tal optimismo nos nossos dias? Que concepção da morte está implícita neste juízo? Neste sentido, articulando o nosso passado histórico com o presente, procurar-se-á examinar representações diacrónicas do corpo, da saúde e da doença, contrastantes, confluentes ou complementares; questionar a importância dos «regimes de saúde» – as «técnicas da existência», práticas de si que requerem uma atenção do indivíduo em relação a si próprio e ao seu corpo – as expectativas que lhes subjazem, os desvirtuamentos que podem conhecer (vigorexia, etc.), as práticas do corpo em que consubstanciam (dietéticas, desportivas).
Num segundo momento, dar-se-á relevo à função histórica e ao significado do cuidado das práticas médico-farmacêuticas e da enfermagem, do passado aos nossos dias. Cuidar e curar: dois termos da mesma equação? Conceitos diferentes, remetendo para esferas de acção e competências profissionais diferentes, embora complementares? Estas são algumas das questões a que pretendemos dar resposta, apelando à contribuição dos profissionais da área, mas também da sociologia, da história, da antropologia e da literatura.
Por último, discutir-se-á o domínio da cura e a polissemia deste conceito, as possibilidades e os limites das práticas médicas, as representações e expectativas dos profissionais envolvidos e, naturalmente, o lugar do paciente
Como reacção ao desaparecimento do paciente da «cosmologia médica» num passado recente, à tendência para a sua redução a um conjunto padronizado de sintomas ou uma instância numérica, áreas disciplinares tão diversas como a medicina narrativa, a história cultural ou a etnologia têm chamado a atenção para a importância fulcral deste na própria eficácia do tratamento ministrado. O que concorre, então, para a eficácia do tratamento? Qual a natureza e o que está em jogo no encontro clínico? O que motiva alguém a procurar o curandeiro, em detrimento dos profissionais de saúde credenciados pelas Universidades, em meios clínicos ou do serviço hospitalar? Será a “sugestão” um placebo empírico e tradicional? Será a dita medicina popular, simplesmente, um arcaísmo?
Linhas temáticas:
Representações da doença e da cura;
Práticas do corpo, prevenção e regimes de saúde;
O lugar dos cuidadores;
O passado e o presente das profissões de saúde;
Eficácia simbólica e agentes de cura.
Comissão Científica:
Adelino Cardoso (CHAM – FCSH/NOVA)
Aurélio Lopes (IELT – FCSH/NOVA)
Bruno Barreiros (CHAM – FCSH/NOVA)
Margarida Esperança Pina (IELT – FCSH/NOVA)
Comissão Organizadora:
Ana Paula Guimarães (IELT – FCSH/NOVA)
Anabela Gonçalves (IELT – FCSH/NOVA)
Carolina Vilardouro (IELT – FCSH/NOVA)
João Neto (Museu da Farmácia)
Paula Basso (Museu da Farmácia)
Calendário:
Submissão das propostas até 30 de abril
Comunicação dos resultados a 31 de maio
Envio de propostas (max. 20 linhas) e biografia (max. 200 palavras) até 30 de abril para o email artesdecura@fcsh.unl.pt
Inscrições:
Participantes (com ou sem comunicação) – 35€
Estudantes (mediamente apresentação do comprovativo) – 25€
Desempregados isentos (mediamente apresentação do comprovativo) até 30 de setembro. A partir de 1 de outubro – 15€