O projeto Estranhar Pessoa tem como propósito uma revisão exaustiva da discussão em torno da obra de Fernando Pessoa, tomando como pontos de acesso os conceitos em que se tem centrado essa discussão (autor, heterónimo, livro, edição, fragmento).
Criado em 2011 e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia entre 2013 e 2015 (PTDC/CPC-ELT/4587/2012), o projeto Estranhar Pessoa partiu de uma necessidade de renovação dos Estudos Pessoanos, promovendo uma reexaminação dos conceitos fundamentais deste campo de estudos, em particular os de autor, heterónimo, livro, edição e fragmento. Contrariando uma certa repetição de noções entretanto tornadas familiares por parte da tradição crítica, a ideia de exame associa-se aqui à de estranhamento da familiaridade de algumas dessas noções, constituída tanto a partir das considerações de Pessoa como da sua fortuna crítica.
Entre as tarefas previstas para o período entre 2018 e 2022 encontra-se o desenvolvimento do portal da Edição Digital de Fernando Pessoa: Projetos e Publicações, em particular no que diz respeito às publicações em vida de Pessoa, alargando o presente corpus à prosa publicada em vida. Um trabalho de estudo crítico irá acompanhar as tarefas de edição e arquivística, centrado no pensamento em torno das categorias organizacionais da obra pessoana, assim como do lugar teórico-crítico que o todo e o fragmento ocupam nos textos de Pessoa. Destas tarefas resultará a realização de seminários abertos e colóquios, seguindo a linha e periodicidade habituais, aos quais se seguirá a preparação de volumes coletivos temáticos, a publicar na Revista Estranhar Pessoa ou em volumes autónomos.
A investigação é conduzida segundo três linhas:
1. Investigação bibliográfica e arquivística;
2. Debate organizado em estruturas especializadas;
3. Preparação e publicação de artigos, edições e volumes críticos.
A investigação bibliográfica e arquivística é realizada tomando em consideração diversos tipos de materiais: a) obras de Fernando Pessoa, publicadas em vida ou através de edições póstumas, b) fortuna crítica da obra de Fernando Pessoa, c) documentos do espólio de Fernando Pessoa. A confrontação destes materiais é de importância decisiva, já que a ênfase dada a um deles, colocando-o numa posição hierárquica, empobrece a análise e compromete uma visão global da obra. O debate e a apresentação pública de trabalhos é conduzida segundo uma periodicidade semestral ou anual, permitindo a apresentação e discussão de resultados do projeto através de comunicações curtas seguidas de longos períodos de discussão, tipicamente seguindo a estrutura dos seminários abertos ou dos pequenos colóquios. A publicação de artigos, edições e volumes críticos é preparada quer individualmente quer através de pequenos grupos de investigação, constituídos em torno de um tema e de um ou mais propósitos.
O trabalho de investigação deste projeto alia uma abordagem hermenêutica e filológica, campos tradicionalmente separados nos Estudos Pessoanos, mas cuja complementaridade se tem revelado decisiva na elaboração de edições e volumes críticos. A sua equipa integra tanto jovens investigadores como especialistas renomados, de diversas instituições académicas, nacionais e estrangeiras, possibilitando a interação entre todos estes investigadores e o acompanhamento recíproco dos trabalhos individuais e de equipa.
Criado em 2011 o projeto contou com o financiamento da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia (2013-2015), do CCeH – Cologne Center for eHumanities (2014) e atualmente do IELT – Instituto de Estudos de Literatura e Readição (2016-hoje).
Equipa de investigadores: Pedro Sepúlveda (investigador responsável), Abel Barros Baptista, Ana Ferraria, António M. Feijó, Caio Gagliardi, Daiane Walker Araujo, Fernando Cabral Martins, Fernando Beleza, Filipa Freitas, Fávio Rodrigo Pentado, Gustavo Rubim, Humberto Brito, Jorge Uribe, Madalena Lobo Antunes, Maria do Céu Estibeira, Mariana Gray de Castro, Mateus Lourenço, Nuno Amado, Paula Costa, Pedro Tiago Ferreira, Rita Patrício e Ulrike Henny-Krahmer.
O projeto conta com vários parceiros, entre eles: Grupo Estudos Pessoanos da Universidade de São Paulo, Cologne Center for eHumanities (Universidade de Colónia), Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Biblioteca Nacional de Portugal e Casa Fernando Pessoa.
Publicações produzidas no âmbito do projeto:
Amado, Nuno (2016) “Adultismo pra Brinquedos”. Revista Estranhar Pessoa. N. 3. 75-89.
— (2015) “Orpheu… e Eurídice”. Revista Estranhar Pessoa. N. 2. 57-70.
— (2016) Ricardo Reis (1887-1936). Dissertação de Doutoramento. Programa em Teoria da Literatura, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Antunes, Madalena Lobo (2016) “Modernist Disenchantment as an Urban Experience in Ulysses, Mrs. Dalloway, and the Book of Disquiet”. Atas do Congresso “1912-2012: A Time to Reason and Compare”. Cambridge Scholar’s Press.
Baptista, Abel Barros (2014) “Razão de se publicarem os heterónimos ortonimamente”. Românica, 22.
Brito, Humberto (2012) “Posfácio”. Ibéria – Introdução a um Imperialismo Futuro. Edição de Jerónimo Pizarro e Pablo Javier Pérez Lopez. Lisboa: Ática.
Castro, Mariana Gray de (2014) “Pessoa, Coleridge, homens de Porlock e dias triunfais: sobre génio, inspiração, interrupção e criação poética”. Revista Estranhar Pessoa. N.º 1.
— (2014a) “Pessoa and Keats”. Portuguese Literary and Cultural Studies. N. º 28. UMass Dartmouth.
Estibeira, Maria do Céu (2015) “Das caricaturas de Almada Negreiros à “Ode a Fernando Pessoa” – um encontro de poetas”. Atas do Colóquio Internacional Almada Negreiros. Fundação Calouste Gulbenkian.
— (2016) “O lugar das «quadras» de Fernando Pessoa na poesia tradicional portuguesa”. Atas do Colóquio do Centro Internacional de Tradição Oral, Évora.
— (2016b) A Marginalia Pessoana – um segundo espólio?”. Atas do Colóquio Fernando Pessoa en Barcelona. Faculdade de Filoloxia de Barcelona.
Feijó, António M. (2015) Uma admiração pastoril pelo diabo (Pessoa e Pascoaes). Pessoana. Ensaios. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Ferraria, Ana. “Um Romantismo particular: John Keats e Fernando Pessoa”. Anglo Saxonica III:8, 2014
Martins, Fernando Cabral & Zenith, Richard (eds.) (2012) Teoria da Heteronímia. Lisboa: Assírio & Alvim.
—- & Zenith, Richard (eds.) (2013-hoje) Coleção Pessoa Breve. 11 volumes publicados. Lisboa: Assírio & Alvim.
Gagliardi, Caio & Penteado, Flávio Rodrigo (eds.) (2017) “Caderno Marcos da Fortuna Crítica de Fernando Pessoa”. Revista Estranhar Pessoa. Nº 4. Lisboa: FCSH/UNL.
Martins, Fernando Cabral (2014) Introdução ao estudo de Fernando Pessoa. Lisboa: Assírio & Alvim.
Martins, Fernando Cabral (2014a) “O Livro do Desassossego e a escrita heteronímica”. Central de Poesia. CLEPUL. Faculdade de Letras da Universidade Lisboa. Lisboa: Esfera do Caos Editores.
—- (2014b) “Modernismo e Performatividade”. Atas do Colóquio Pensar a República 1910-2010. FCSH da UNL. Lisboa, Almedina.
—- (2015) “O Interseccionismo Plástico de Orpheu”. Os Caminhos de Orpheu. Catálogo da exposição na BNP. Org. Richard Zenith. Lisboa, BNP/Babel
—- (2015a) “Notas sobre o diálogo poético entre Sá-Carneiro e Pessoa”. Revista Estranhar Pessoa. Nº2.
—- (2016) Mário Cesariny e O Virgem Negra ou A Morte do Autor e o Nascimento do Actor. Lisboa: Documenta.
Patrício, Rita (2012) Episódios. Da teorização estética em Fernando Pessoa. Braga: CEHUM, Húmus.
—- (2014) “100 anos de Orpheu”. Boletim Info-Cehum nº 43. Dezembro, Janeiro e Fevereiro de 2014
—- (2015) “Nós os de Orpheu: da distinção”. Revista Estranhar Pessoa. Nº2.
—- (2015a) “Quand le bruit des canons éclate: Fernando Pessoa e as artes menores”. Org. Carlos Mendes de Sousa. Conflito e trauma. Cehum, Braga.
—- & Rubim, Gustavo (2016) “Caderno O que é um autor”. Editores Rita Patrício e Gustavo Rubim. Revista Estranhar Pessoa. Nº 3. Lisboa: FCSH/UNL.
Rubim, Gustavo (2014) “Consciência e Antropofobia”, Central de Poesia: O Livro do Desassossego. Lisboa, CLEPUL, Esfera do Caos Editores.
—- (2014a) “Os Episódios de Rita Patrício”. Boletim de Pesquisa NELIC. V. 14. Nº 22. Universidade Federal de Santa Catarina.
Sepúlveda, Pedro (2013) Os livros de Fernando Pessoa. Prefácio de António Feijó. Lisboa: Ática.
—- (2014) “Pessoas-livros: o arquivo bibliográfico de Fernando Pessoa”. MatLit. Coimbra: CLP da Universidade de Coimbra. V. 2. Nº 1.
—- & Uribe, Jorge (2014) “Caderno do dia triunfal”. Editores Pedro Sepúlveda e Jorge Uribe. Revista Estranhar Pessoa. Lisboa: FCSH da UNL. N.º 1. [http://estranharpessoa.com/revista-anterior/]
—- (2015) “Caderno do Orpheu”. Edição e introdução de Pedro Sepúlveda. Revista Estranhar Pessoa. N.º 2. Lisboa: FCSH da UNL. Nº 2.
—- (2015a) “Orpheu em lugar de Caeiro”. Revista Estranhar Pessoa. N.º 2. Lisboa: FCSH/UNL.
—- & Uribe, Jorge (2016) O planeamento editorial de Fernando Pessoa. Pessoana. Ensaios. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
—- & Henny-Krahmer, Ulrike (2017) Edição Digital de Fernando Pessoa: Projetos e Publicações. Coordenação editorial por Pedro Sepúlveda, coordenação técnica por Ulrike Henny-Krahmer. Lisboa & Colónia: IELT, Universidade Nova de Lisboa & CCeH, Universidade de Colónia.
Uribe, Jorge & Sepúlveda, Pedro (eds.) (2011) Sebastianismo e Quinto Império. Obras de Fernando Pessoa – Nova Série. Lisboa: Ática.
Uribe, Jorge (2014) Um drama da crítica: Oscar Wilde, Walter Pater e Matthew Arnold, lidos por Fernando Pessoa. Dissertação de Doutoramento. Programa em Teoria da Literatura, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Uribe, Jorge (2015) “Pessoa’s Walter Pater: Archival material from a reading story”, Portuguese Literary and Cultural Studies. N. 28. Tagus Press-University of Massachusetts-Dartmouth.
Uribe, Jorge (2016) “Autoria, evolução e sentido: apontamentos para uma releitura da “Carta da génese dos heterónimos”. Revista Estranhar Pessoa. Nº 3.
Bibliografia recomendada:
Araujo, Daiane. W.; Gagliardi, Caio (2015) A abordagem evolutiva nos estudos pessoanos de Jorge de Sena: leituras dos anos 40. Pessoa Plural. V. 7. 44-66.
Araujo, Daiane. W.; Gagliardi, Caio (2015) Jorge de Sena depois de João Gaspar Simões: a abordagem evolutiva nos estudos pessoanos dos anos 50 e 60. Pessoa Plural. V. 7. 67-93.
Baptista, Abel Barros (2010) De Espécie Complicada. Coimbra: Angelus Novus.
Castro, Ivo (2013) Editar Pessoa. 2ª Edição. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Dionísio, João (2007) “Integridade e genuinidade na obra de Fernando Pessoa”. A Arca de Pessoa: novos ensaios. Steffen Dix and Jerónimo Pizarro (eds.). Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. 353-365.
Feijó, António M. (2000) ““Alberto Caeiro” e as últimas palavras de Fernando Pessoa”. Revista Colóquio/Letras. Ensaio, n. 155/156. 181-190.
Feijó, António M. (2015) Uma admiração pastoril pelo diabo (Pessoa e Pascoaes). Pessoana. Ensaios. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Gagliardi, Caio (2016) Dez Marcos da Fortuna Crítica de Fernando Pessoa.
—- & Penteado, Flávio Rodrigo (eds.) (2017) “Caderno Marcos da Fortuna Crítica de Fernando Pessoa”. Revista Estranhar Pessoa. Nº 4. Lisboa: FCSH/UNL.
Gumbrecht, Hans Ulrich (2003) Production of Presence: What Meaning Cannot Convey. Stanford: Stanford University Press.
Gusmão, Manuel (2003) “O Fausto — um teatro em ruínas”. Românica. N. 12. 67-86.
Lourenço, Eduardo (2003) Pessoa Revisitado. Leitura Estruturante do Drama em Gente. Lisboa: Gradiva (1a. ed. 1973).
Lourenço, Eduardo (2008) Fernando, Rei da nossa Baviera. Lisboa: Gradiva (1a. ed. 1986).
Martins, Fernando Cabral (ed.) (2008) Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português. Lisboa: Caminho. 55-58.
—- & Zenith, Richard (eds.) (2013-hoje) Coleção Pessoa Breve. 11 volumes publicados. Lisboa: Assírio & Alvim.
—- (2014) Introdução ao estudo de Fernando Pessoa. Lisboa: Assírio & Alvim.
McGann, Jerome (2003) Black Riders. The Visible Language of Modernism. Princeton: Princeton University Press.
Monteiro, Adolfo Casais (1985) A Poesia de Fernando Pessoa. José Blanco (ed.). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Patrício, Rita & Pizarro, Jerónimo (eds.) (2006) Obras de Jean Seul de Méluret. Edição Crítica de Fernando Pessoa. Vol. VIII. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.
—- (2012) Episódios. Da teorização estética em Fernando Pessoa. Braga: CEHUM, Húmus.
—- & Rubim, Gustavo (2016) “Caderno O que é um autor”. Editores Rita Patrício e Gustavo Rubim. Revista Estranhar Pessoa. Nº 3. Lisboa: FCSH/UNL.
Rubim, Gustavo (2000) “Livro: o único, o múltiplo e o inexistente”. Revista Colóquio/Letras. Ensaio. Nº 155/156. 216-219.
Penteado, Flávio Rodrigo; Gagliardi, Caio (2015) The Art of Drama According to Browning and Pessoa. Portuguese Literary & Cultural Studies. V. 28. 164-187.
Seabra, José Augusto (1988) Fernando Pessoa ou o Poetodrama. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda (1a. ed. São Paulo: Perspectiva, 1974).
Sena, Jorge de (1982) Fernando Pessoa & C.ª Heterónima. Lisboa: Edições 70.
Sepúlveda, Pedro (2013) Os livros de Fernando Pessoa. Lisboa: Ática.
—- & Uribe, Jorge (2014) “Caderno do dia triunfal”. Editores Pedro Sepúlveda e Jorge Uribe. Revista Estranhar Pessoa. Lisboa: FCSH da UNL. N.º 1.
—- (2015) “Caderno do Orpheu”. Edição e introdução de Pedro Sepúlveda. Revista Estranhar Pessoa. N.º 2. Lisboa: FCSH da UNL. Nº 2.
—- & Uribe, Jorge (2016) O planeamento editorial de Fernando Pessoa. Pessoana. Ensaios. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
—- & Henny-Krahmer, Ulrike (2017) Edição Digital de Fernando Pessoa: Projetos e Publicações. Coordenação editorial por Pedro Sepúlveda, coordenação técnica por Ulrike Henny-Krahmer. Lisboa & Colónia: IELT, Universidade Nova de Lisboa & CCeH, Universidade de Colónia.
Silvestre, Osvaldo (2014) “O que nos ensinam os novos meios sobre o livro no Livro do Desassossego”. MatLit. Revista do Programa de Doutoramento em Materialidades da Literatura. Coimbra: Universidade de Coimbra. 79-98.
Tríptico do projeto aqui.