Deixou-nos ontem mais um nome marcante do IELT. Ensaísta, poeta, dramaturgo, romancista, tradutor, crítico, diretor de prestigiadas revistas literárias (Tabacaria, Colóquio-Letras), embaixador da cultura portuguesa num país e numa cidade que tanto admirava e frequentava (Paris), docente universitário, estarão sempre em falta os substantivos que descrevam a riqueza, a diversidade e a multiplicidade do percurso de Nuno Júdice. Em 2002, foi membro fundador do IELT quando este ainda era o Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, tendo tido um papel relevante na sua refundação em 2015 quando, reunindo o Laboratório de Estudos Literários Avançados e o Centro de Estudos sobre o Imaginário Literário (dirigido pelo seu amigo de longa data, Helder Godinho, falecido em 2020), o IELT se tornou Instituto de Estudos de Literatura e Tradição.

Na verdade, tanto pela forma como apreendeu o fenómeno literário para lá das suas fronteiras geográficas, temporais e genológicas (O espaço do conto no texto medieval [1991], O fenómeno narrativo: do conto popular à ficção contemporânea [2005], A viagem das palavras: estudos de poesia [2005]), como pelo convite reiteradamente lançado ao diálogo entre poesia e pintura, entre modernidade e tradição, a obra ensaística de Nuno Júdice acaba por desenhar na perfeição os contornos programáticos do IELT e  corporizar a sua identidade matricial.

Nesta hora de prematura despedida em que a literatura e a crítica literária perdem uma das suas vozes mais lúcidas e penetrantes, o IELT, grato por tantos contributos que recebeu, presta uma sentida homenagem a Nuno Júdice e endereça à sua família profundas condolências.

De um e outro lado do que sou,
da luz e da obscuridade,
do ouro e do pó,
ouço pedirem-me que escolha;
e deixe para trás a inquietação,
a dor,
um peso de não sei que ansiedade. 

Mas levo comigo tudo
o que recuso. Sinto
colar-se-me às costas
um resto de noite;
e não sei voltar-me
para a frente, onde
amanhece. 

«Confissão», in Meditação sobre Ruínas, 1994.